sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

"Amica" e "Ammalato": vamos falar de relacionamentos tóxicos








A moça prestativa, sempre à disposição, feliz em ajudar. Visita sempre que pode e traz um agrado: um bolo feito em casa, um buquê de flores, o último número da revista favorita ou o pocket book mais vendido do momento. 













Do outro lado, nosso pobre doentinho. Exige atenção constante, nunca melhora por completo. Quando não é o fígado, é o estômago. Ou a garganta, ou a cabeça. Ele não sabe o que tem de errado, mas ele só sabe viver nessa terrível condição. Ninguém o vence no rosário de lamentações - e não ouse desafiá-lo! 








Mas os dois se atraem! E se completam. Ela, feliz por encontrar alguém que precise constantemente de seus cuidados. Alguém que precisa ser salvo, que fará dela a almejada heroína. Ele, certo de ter encontrado sua fada madrinha, tão dedicada quanto sua amada mãezinha. Alguém que entende suas dores e necessidades constantes. Alguém que o serve.

O desfecho dessa história é claro. Um lado só dá, o outro só recebe. No entanto, nenhum dos dois é inocente. A Amica quer se sentir desejada, quer ter certeza de que o outro precisa dela. Sua bondade esconde sua obsessão por ser indispensável. É claro que depois de alguns meses estará se lamentando pelos cantos por sua caridade infinita, seus compromissos infindáveis. E assim, ninguém pode ser tão moralmente superior quanto ela. 

O Ammalato a sugará até a morte. Até que não tenha mais nada para alimentá-lo. E segue, como um vampiro de energias que nunca se sacia. Agradecido no começo, depois passa a ser exigente, mostra-se mimado e reclamão, certo de que a Amica não irá sumir. Afinal, quem teria coragem de deixá-lo? Ele, que precisa tanto, que é tão frágil!

Um dia a Amica cairá em si, esgotada, e o deixará, odiando-se. Como pode ser tão estúpida, tão inocente? Ela é sempre pega por essas ciladas, pobrezinha! Só quer ajudar, mas quando oferece a mão lhe arrancam o braço. Mundo cruel, mundo injusto! Foi abusada dia após dia e só perdeu seu tempo. 

E o Ammalato, geralmente abandonado (só abandona, sem pudores, quando encontra uma enfermeira melhor), acusará a outra da mais profunda crueldade, frieza. Como teve coragem de deixá-lo naquele estado? Como teria se operado tamanha transformação na meiga menina do início? Macumba, só pode ser. Ou o mundo está todo errado. 

Mas não se enganem. A Amica encontrará outro doentinho em breve. O Ammalato atrairá mais uma salvadora da humanidade. 

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