Ela parece usar um vestido de festa
amassado. Parece-me que chegou de um baile na noite anterior e nem
teve tempo de trocar de roupa, pois a filha foi logo demandando seus
cuidados. E ela não se importa se o seu vestido é rico, se a menina
vai babar nele. O vestido é o de menos. Faz parte da menos
importante de suas obrigações. Agora, a sua vida é a sua família.
Ela está cansada, mas sorri. A rosa em seu peito, desabrochada,
revela que ela tem muito amor para reverberar. A casa é suntuosa:
as colunas são bem trabalhadas, as almofadas são confortáveis, sua
filha também está bem vestida. Ela não tem preocupação alguma
com sua sobrevivência. Seu papel é manter, proteger o que possui,
amar.
Em sua mão esquerda vemos um pedaço
de papel. O que estará escrito ali? Será um bilhete do marido, com
instruções para uma precaução especial com a casa? Ou uma mensagem
apaixonada, de quem reconhece o carinho com que ela cuida de todos?
Não sabemos se o que a faz sorrir é o bilhete ou a filhinha, que
aponta para algo que está fora de nossa visão (será o gato da
carta Falsidade?).
A menina usa somente um sapato. O outro
está em cima do aparador. Não se coloca sapato em cima de mesa, mas
quem disse que a mãe liga pra isso? Ela não quer encher a filha de
regras, proibições. Deixa-a brincar, com liberdade para explorar o
mundo.
Ela dá as costas para a janela que
mostra o mar e um navio ao longe. O mundo lá fora, na verdade, não
a interessa. O que faz seus olhos brilharem é o que está dentro
dessa casa, são os seus entes queridos. Nem mesmo o luxo que a
rodeia é importante. Seu corpo relaxado num vestido tão bonito,
inapropriado para os cuidados da casa, mostra que ela fica à vontade
em meio ao conforto material, mas não muda sua postura diante disso.
A carta significa proteção, desvelo.
É alguém em quem podemos confiar plenamente. E melhor: essa pessoa
tomará conta do consulente com carinho de mãe. Isso se não for o
consulente quem estiver cuidando de alguém dessa forma. É o amor
incondicional de Deus.
Se o significante for a criança, o
caso refere-se a uma pessoa vulnerável, que precisa de outras
pessoas para as necessidades mais básicas, tanto materiais quanto
emocionais. Ou até mesmo uma pessoa que recebe mimos como se fosse
uma criança, por quem se faz tudo, até mesmo o que ela poderia
fazer sozinha.
A carta também representa os laços de
sangue. A família em primeiro lugar, e tudo o que abrimos mão em
nome do bem das pessoas que nos são mais caras.
Se estiver numa posição negativa,
podemos pensar na vulnerabilidade resultante da falta de cuidados. Ou
na falta de interesse, de apego emocional. Pense numa mãe que não liga pros filhos, pra casa. Pode apontar para um problema mais sério,
como depressão, uma vez que pessoas deprimidas tendem a negligenciar
os cuidados mais básicos consigo mesmas e com o seu ambiente. Nesse
caso, vale procurar ajuda profissional.
Como o nome da carta não é Mãe, mas
Esposa, devemos nos atentar para o fato de que a proteção dela
abrange toda a família, e não só os seus rebentos. Em excesso, é
superprotetora, sufocante, castradora, controladora.
A interpretação dependerá mesmo da
situação apresentada pelo consulente, da intuição de quem lê as
cartas e das cartas que a rodeiam. E as versões não terminam por
aqui. Cada pessoa tem uma experiência pessoal com a família, com a
mãe, com o pai (que não está na carta... o que pode indicar uma
mãe solteira que acumulou funções, ou um pai que está sempre
fora, trabalhando, viajando). A carta pode soar extremamente negativa
para alguns. Para outros, representa a própria Providência Divina.
A discussão não acaba. Por isso, a cada novo insight, voltaremos à
Donna Maritata.
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