domingo, 19 de janeiro de 2014

Aprender as cartas

Como disse no primeiro post do blog, eu não sou cartomante profissional. E tenho pouco tempo de contato com as cartas - primeiro o tarô, depois o Lenormand, e finalmente as Sibilas. E nos últimos 5 anos meu aprendizado nem sempre tem evoluído. Quem estuda muito sabe que não basta grudar na cadeira, ler e escrever para aprender algo. Cada um tem um método que funciona melhor. Alguns métodos, embora sejam comuns, podem apenas nos render muito trabalho e pouco resultado. É como quebrar pedra o dia inteiro sem ter o objetivo de construir nada.

Meu primeiro livro consistente sobre o tema foi Jung e o Tarô, da Sallie Nichols. Eu nem sabia direito a ordem dos arcanos maiores. Acho que acertei na escolha, mas depois não fui tão criteriosa. Trabalhando no centro de São Paulo, tinha à disposição os melhores sebos. Viciada em livros em quantidade, como boa taurina com lua em Capricórnio, queria aprender tudo e queria todos os livros. Afinal, um detalhe que mudaria a minha vida poderia estar numa página de um livro obscuro esquecido no fundo da prateleira. E eu não poderia correr esse risco.

Em vez de olhar as cartas, compilava os significados. Comecei as primeiras tentativas de tiragens, e corria para os livros. Às vezes o que estava escrito em um deles não fazia sentido, mas tinha uma palavra no outro livro que se encaixava. E assim, consumi vários livros sobre Tarô sem aprender muito sobre ele.

Depois comecei a colecionar decks. Desenhista no passado, imagens são minha paixão. O problema é que deixei na adolescência o hábito de perscrutar longamente uma imagem a ponto de imaginar a sua história, as suas motivações. Restou-me, no entanto, o impulso por elas. Alguns decks eu comprei nas livrarias, depois descobri as lojas online e numa viagem a Portugal e acesso direto a baralhos diferentes, gastei os tubos. Aproveitei e comprei alguns decks que não são o nosso tradicional tarô de 78 cartas, como o Minchiate, o Tarô de Eteilla, o Mantegna, o Lenormand.


O XVII Arcano do tarô, feito por mim para o Concurso Desenhe o Seu Arcano, promovido pela USGames Brasil, no Facebook


Enchi uma caixa com decks, abarrotei prateleiras com livros, mas ainda não havia tido tempo para olhar as cartas, namorá-las. O tarô me deixa insegura até hoje, não sem motivo.

Quando me mudei para Brasília, não trouxe imediatamente a minha bagagem. Trouxe apenas um tarô de Marselha - meu favorito - e um Lenormand. No entanto, tinha necessidade de fazer algumas perguntas às cartas, e não tinha comigo sequer o segundo livro da Trilogia do Tarô, do Nei Naiff. Sem ajuda externa, tive que contar com a minha intuição, até então negligenciada em favor do intelecto.

Nessa época vi numa loja online a Sibilla della Zingara, me apaixonei pelas poucas imagens e encomendei. E, para meu desespero, não havia um único significado no encarte que acompanha o baralho. Nenhum! Procurei na internet, e minha busca foi infrutífera. Apenas alguns blogs brasileiros falavam delas de relance, mas não eram suficientes para a minha curiosidade. O pequeno deck me olhava e pedia: Decifra-me! Então eu o deixei de lado por um ano.

No inicio deste ano eu o recuperei. E, desta vez, achei algo na internet sobre ele. Nada comparado à bibliografia do tarô: apenas significados curtos. Foi um ponto de partida. Então peguei a primeira carta e fui escrever sobre ela: as palavras foram fluindo e se avolumando, e notei que eu e a carta - sem nenhum livro entre nós - podíamos conversar longamente. Não que ninguém tivesse me dito que eu devia me familiarizar com as imagens. Mas depois de 5 anos querendo aprender sobre as cartas eu tinha me dado conta da simplicidade desse conselho.

Esse blog serve para acompanhar o desenvolvimento desse aprendizado. O que posto vai muito além do que tenho no meu caderno: novas conexões surgem e o texto mal revisado que apresento aqui é cru, genuíno e apaixonado. Alerto, no entanto, para fato dos significados jamais se limitarem a um post. Os significados crescem, concentram-se num detalhe outrora negligenciado, expandem-se, mudam de rota, ressigficam-se. 

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