No Sibilla Della Zingara, vemos um cachorro afastado da cidade, num passeio ou até mesmo sobre o túmulo de alguém (imagem recorrente em outras sibilas). Recordemos que os cemitérios costumavam ser construídos fora dos limites das cidades. Conhecendo a natureza canina, logo imaginamos que esse túmulo deva
ser do seu dono, falecido.
Os cães são valorizados por sua fidelidade além da morte.
Várias são as histórias daqueles que acompanham seus donos em todos os lugares,
até nos hospitais. Se conectam a nós de forma
ainda misteriosa. Lembro-me de um cãozinho que tive por muitos anos e ficava
alerta assim que eu estava me aproximando de casa. Minha mãe sabia, pelo
comportamento dele, que eu chegaria em casa dentro de 5 ou 10 minutos. Esse mesmo
cachorrinho faleceu aos 11 anos, pois tinha um coração fraco. Tanto amor para
um coração tão pequeno!
O nome da carta é Fedeltà. Fidelidade. Aqui e em outras
sibilas (Petit Lenormand e Zigueunerkarten, por exemplo), o cão é o
representante por excelência dessa virtude. No Vera Sibilla, vemos o animal
paciente ao lado de uma barraca armada e um chapéu. Não vemos o dono do cão.
Mas mesmo assim o cachorro continua lá, guardando seus pertences, fiel. As duas
versões da Sibilla Italiana, portanto, mostram a fidelidade até na ausência do
ser ao qual se é fiel. Não é fidelidade por medo ou interesse, mas a fidelidade
mais pura.
Num jogo, ele mostrará a quem ou ao quê se é fiel: tanto o
Consulente quanto aqueles por quem ele questiona. Portanto, pode ser peça chave
na descoberta de uma traição por amigos ou pela pessoa amada. Indica também
onde está o coração de alguém, seus apegos, sua atenção.
Ele é um aliado, um protetor. Muitas vezes essa carta é mais
forte do que o Imeneo, seus laços são muito mais densos.
Porém, essa fidelidade pode se tornar dependência, apego
exagerado e vício. Ao lado dos Deliranti ou da Allegria, a despeito de seus
significados isolados, pode mostrar alguém viciado em substâncias entorpecentes,
bebidas etc.
Podemos também ser dependentes de outra pessoa. Alguém pode estar
na nossa cola, como um cachorro de rua que vai com a nossa cara e começa a nos
seguir. Um stalker. Nesse caso, como a
carta é de Copas, falamos de dependência emocional. Nossos hábitos ruins
(fumar, comer demais) também podem ter origem emocional. Quem não gosta de comer doces quando está deprimido? Esses são os hábitos mais
difíceis de largar.
A teimosia também é a fidelidade ao que não funciona mais. Se pensarmos que o cachorro da primeira imagem está sobre um túmulo, temos duas cartas com túmulos no Sibilla Della Zingara: o Vedovo e Fedeltà. O
viúvo, no entanto, preserva a memória do cônjuge falecido e segue sua vida. O
cão age como se o dono fosse sair do túmulo a qualquer momento e tudo fosse
continuar como antes. Ele não vê que não há mais o que fazer, que aquilo
acabou. Numa leitura mais literal, podemos ver até mesmo um animal abandonado. Talvez acredite que seu dono irá voltar em breve e continua ali, esperando.
Fidelidade (Zigenerkarten) |
Em seu melhor aspecto, a carta fala da fidelidade a si
mesmo. E é a fidelidade a si mesmo que alimenta a fidelidade aos nossos ente
queridos, as relações saudáveis de confiança. Tão difícil de alcançar, mas tão
necessária num mundo em que somos obrigados a seguir padrões estabelecidos
pelos outros.
"Mudar nossas vidas é complicado por causa das lealdades preexistentes. Geralmente nos aprendemos a lealdade dentro da nossa estrutura familiar e como sinônimo de conexão à família. A lealdade a si mesmo, no entanto, é uma virtude totalmente diversa, e entregar-se à ela pode causar uma tremenda revolução dentro da família." (MYSS, CAROLINE. The Anatomy of the Spirit: The Seven Stages of Power and Healing. Editora Harmony, 2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário