Quando nos armamos de interpretações caçadas num livro e nos aproximamos delas, nós é que lhes dirigimos primeiro a palavra e lhes dizemos o que devem significar. Elas podem manter-se caladas e nem notaremos, tão preocupados em ouvir nossa própria voz. E elas poderão até mesmo aceitar nosso discurso, adaptar-se e - sim! - funcionar. No entanto, serão como crianças obedientes e condicionadas, sem brilho, limitadas.
Mas sem antecedentes impositivos, tantos livros e longas listas de significados, somos obrigados a ouvir as cartas. Descobrimos que elas têm voz própria, segredos, inconstâncias, desejos e medos. Elas não contam tudo de uma vez, não: preparam-nos aos poucos, pegam confiança em nós e repassam aquilo que estamos preparados para ouvir. Desenvolvem-se, assim, intrigantes, independentes, ricas, ilimitadas. Crescemos juntos com elas. Tornamo-nos seus amigos, sem jamais dominá-las à força.
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