terça-feira, 3 de março de 2015

Disperato e os comportamentos auto-destrutivos

Disperato per Gelosia saiu-me ao menos duas vezes numa mesma semana. E essa carta, como outras tantas cartas nefastas dos diversos oráculos, parece estragar nosso dia no momento em que pululam do baralho, como uma profecia com realização garantida. 

Meus dias de Disperato, não sei se por sugestão ou previsão, nunca são fáceis. No entanto, não são dias em que aparecem problemas que me tiram do sério a ponto de dar aquela vontade de sumir. Noto que nesses dias eu estou com os pensamentos a mil, bagunçados, desencadeados, pouco racionais. Quando penso no sofrimento dos outros, sinto-os como se fossem meus. Por isso afasto-me dos grandes dramas e histórias tristes. Nesses dias, porém,  eu me torturo pensando mais "carinhosamente" no sofrimento alheio. O saldo do fim do dia é uma coluna vertebral despedaçada com tanto peso (geralmente alheio), o sono perturbado, os nervos à flor da pele. Provavelmente chegarei em casa e decidirei que tenho direito a uma bacia enorme de brigadeiro de colher. Mas drama mesmo? Uma grande desgraça? Nada acontece.

Nosso Disperato está prestes a acabar com a própria vida. Seus olhos esbugalhados nos fazem duvidar da sua estabilidade emocional. Não sabemos o que o fez chegar àquele ponto. Talvez não seja nada demais: ele é que não tem discernimento suficiente para calcular as suas reações às frustrações da vida.

 

Essas pinturas de Edvard Munch chamam-se, respectivamente, O Desespero e O Grito. Isso me intrigou no começo, pois a segunda imagem parece-me mais 'desesperada' do que a primeira. Mas o grito é libertador. O grito pode acabar com o desespero, com os fantasmas. O grito devolve, muitas vezes, as neuroses aos seus verdadeiros donos. O desespero é silencioso e devorador. O homem da primeira imagem está só em sua angústia e não a divide com ninguém (até pular da ponte, que se oferece tentadora).

Muitas vezes nos frustramos com qualquer coisa e descontamos, sem raciocinar, na comida, no cigarro, no choro convulsivo e dramático, na melancolia que desiste da vida. Em vez de liberar aquilo que precisamos, supliciamos o nosso corpo: tanto pelos "venenos" de que tanto gostamos e consumimos quanto pelas tristezas que se acumulam e viram uma doença, um câncer futuro. E esse matar-se lenta e irracionalmente não teria semelhança com a imagem da nossa carta?





2 comentários:

  1. Olá, Jamile.
    Todos os dias tiro uma carta e esta foi a minha hoje (04 de março).
    Acho que quando estamos bem e tiramos uma carta "nefasta" a tendência é ficarmos com uma pulga atrás da orelha.
    Bom, graças aos deuses tudo está correndo bem e seu texto foi bem esclarecedor.
    Abraços.

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    1. Oi, Soraia,
      Eu confesso que tenho dificuldades em manter uma prática regular de tiragens diárias porque as cartas "nefastas" gostam de aparecer naquele dia em que acordamos mal e esperamos uma carta bonita pra nos acalmar. Mas na prática não é tão pavoroso. As cartas diárias têm uma força muito menor do que numa tiragem para um tempo maior. Abraços!

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