A mulher do nosso arcano de hoje tem o olhar perdido e mergulhado em grande desalento. Não acredito que ela tenha acabado de receber uma notícia que a entristeceu. Se a notícia é ruim, causa espanto e furor. A energia é liberada e depois não restam forças, não restam lágrimas. Ela não sabe o que fazer daqui pra frente. O tempo parou, o mundo parou. Não há passado ou futuro. Tudo está em suspensão.
Estamos no fundo do poço. Atrás da mulher, vemos águas paradas, uma poça que não parece fazer parte de nenhum lago, mas somente água de chuva que se acumulou ali. As águas paradas são emoções que não fluem, é um berçário de larvas e foco de mosquitos que transmitem doenças. O cheiro ruim surge depois de algum tempo. A árvore também perdeu suas folhas. Aqui, vemos um estado de morte e decomposição. Ela está morrendo aos poucos em suas próprias águas emocionais.
Na Alquimia, a decomposição não é o fim. A matéria decomposta é fertilizante para um novo ser. Mas ainda assim não é uma fase bonita. A depressão, boa representante emocional desse estágio, também é água parada e malcheirosa. Desse pântano pode surgir uma flor, a transformação completa de um ser que devia morrer em outro ser melhorado. A tristeza pode conter ouro em sua semente, mas o risco de sucumbir de vez infesta o ar. A depressão não tem sentido semelhante para todos os que passam por ela, se é que ela deve ter um sentido. Ela pode levar à morte física. Mas quando se instala no espírito, a morte, de certa forma, já começou a operar seus estágios.
Melancolia (Lars von Trier): uma exploração impressionante do estado depressivo
Quando essa carta sai num jogo, é preciso tomar cuidado com a exploração do lado positivo (transformação). Não dá pra correr o risco de pintar essa carta com cores pastéis: ela é pesada, forte. Se ela se refere ao consulente, ele precisa de ajuda profissional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário