domingo, 20 de abril de 2014

Leggerezza - 10 de Paus



Em inglês, o título da carta é Frivolity (frivolidade), o que dá certa conotação negativa ao arcano. Leveza é uma tradução que segue o caminho oposto, mas preferi tender para o significado original, em italiano.


Quando era adolescente, minha tia estava interessada em um homem que não se apegava a ninguém. Estava sempre conversando com uma mulher ou outra, mas nunca chegava sequer a namorar uma delas. Minha tia usava um verbo para esse comportamento: borboletear. Aquele homem pulava de flor em flor, mas não ficava mais do que alguns minutos em cada uma delas. Ninguém conseguia entendê-lo. Ninguém conseguia dizer se ele gostava de alguém, se procurava por características específicas em uma pessoa. Ele fugia à compreensão das pessoas como se escorregasse pelas mãos. 

Essa carta mostra esse tipo de gente que tem alguma coisa que nos escapa, que não conseguimos descrever por completo e com segurança. É um arcano, pra mim, um pouco geminiano, ambíguo, sem sexo, mas não necessariamente misterioso. Ele não guarda um segredo: ele mesmo não sabe quantas coisas pode ser, quantas máscaras pode carregar. São as situações escorregadias, pouco confiáveis. 

Não espere segurança e estabilidade desse arcano. Seu tempo é contado em segundos, seu oposto é a Constanza, sua virtude é a efemeridade. Ele pede para que nos concentremos no agora, para que respiremos fundo e sintamos o aroma do momento. Nem o passado nem o futuro existem, exceto em nossa mente ilusória. 

Assim, a carta contém em si a dádiva do presente, que pode ser também uma maldição. A brevidade traz tristeza àqueles que se apegam demais. 

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