domingo, 20 de abril de 2014

Falsità - 4 de Ouros

Uma das cartas mais polêmicas do Sibilla, a Falsità mostra um gato que nos fita, digamos, com a maior cara de pau. Parece que acabou de atacar o armário cheio de guloseimas, e tenta nos desarmar com o seu charme e aquele ar de quem não fez nada de errado. 

Quem tem gatos entende esse comportamento. Mas também não o associa a falsidade. Eu tenho três gatos, e creio que os gatos são animais muito fiéis, nem fingem que gostam de nós só porque os alimentamos. Conquistar um gato é tarefa árdua, pois eles só demonstrarão carinho e confiança quando efetivamente sentirem que gostam de você. 

Os gatos não são amados por todos. Há quem os odeie é os acuse de serem traiçoeiros, falsos, indiferentes. São associados ao ocultismo, às bruxas más, à noite, às mulheres. Sim, às mulheres que nunca foram completamente domadas, apesar de subjugadas. Que sempre mantiveram alguma autonomia, ainda que bem escondida em seus pensamentos, que sempre tiveram consciência do seu poder natural, ainda que lhe dissessem o contrário. Gatos e mulheres são seres noturnos, que palmilham pelo inconsciente com a sinuosidade da água que abre caminhos pelos espaços menos prováveis. E tanto os gatos quanto as mulheres são popularmente associados à falsidade.

E como acho que essa seja uma qualidade superficialmente associada aos gatos, gostaria de ver outra imagem na carta. Porém, deixo a tarefa para um futuro baralho. Vamos nós concentrar no significado da carta.

A Falsità me faz retornar à carta da Nemica, que usa uma máscara. Qual a diferença entre elas? A Nemica quer te dar o troço, quer te fazer mal com todas as suas entranhas. A Nemica sente tanto! É quer acabar com a dor dela transferindo-a a você. E a Falsità?

A Falsità é indiferente. Ela não quer te prejudicar, mas o fará se for preciso. Ela só se defende com as máscaras que possui. É aquela pessoa simpática com todos os que se aproximam e que depois fala mal de todo mundo pelas costas. A máscara já grudou no seu rosto, mas sem objetivos claros, nem alvos certos. É a mentira compulsiva. Não quer fazer mal a ninguém, mas o faz sem querer.

Pode ser apenas uma proteção. Alguém que mantém a voz afetada para conversar, as pessoas "fofinhas" que usam aquela voz de criança e nos trata como velhos amigos, mas com quem não temos nenhuma afinidade. Às vezes ela só quer se aproximar porque tem algum interesse: seu desejo nem é prejudicar, mas roubar um pouco da sua atenção, do seu carinho ou do seu consentimento.

Acho que todos sabemos bem o que são pessoas falsas. Lembre-se, no entanto, que nem todas as pessoas falsas são suas inimigas.

Quando mostra uma situação, a carta alerta para a possibilidade das coisas não serem exatamente o que parecem. Quer comprar um carro maravilhoso? A cor é perfeita, as condições são favoráveis. Mas o motor pode ter um defeito que se esconde sob o brilho como a cara fofa do gatinho esconde uma travessura. É melhor pensar suas vezes. Nem tudo o que reluz é ouro.

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