quarta-feira, 15 de abril de 2015

Belvedere e o medo de viver

Espera não só é um dos significados de Belvedere como também um de seus nomes (L'Attesa). No entanto, não representa só a ansiedade da espera por algo ou alguém. 

Enquanto se espera, não se está em plena ação. Enquanto se espera, a vida corre lá fora, o mundo se transforma. A esperança traz em si o perigo dessa inação, de se perder nesse eterno aguardar e acabar se petrificando, ficando para trás. Afinal, nada do que esperamos é garantido até que aconteça. E quem garante que "quem espera sempre alcança"?

E se pensarmos em Belvedere também como falta de ação, chegamos à um tipo de personalidade retraída, que limita-se a observar o mundo participando minimamente dele. Talvez por medo de se expor e passar vergonha, talvez por medo de correr riscos e por-se em perigo, talvez por medo de outras pessoas. 



Nessa combinação, temos Belvedere como situação central: a atitude de afastamento, de observação distante. 

Sua origem está à esquerda, em Denaro: sendo uma carta de Copas, e não de Ouros, fala também dos nossos tesouros e segredos internos, nossos esqueletos no armário, tudo o que acumulamos no passado e continuamos guardando. Essa Consulente tem um passado que a fez se retrair, se proteger para que ninguém descubra e vasculhe esses segredos antigos. E quais são esses segredos? Outras cartas esclarecerão.

À direita vemos o que ela observa: Allegrezza al Cuore, carta de interação festiva e intensa entre pessoas que parecem ser amigas ou que acabaram de se conhecer e se identificaram imediatamente. Essas pessoas, em contraste com aquela representada em Belvedere, não têm medo de se expor, de dançar diante de outras ou com as outras, de suar e de parecer ridículas. Elas vivem.

Essa é a atitude típica do voyeur, que prefere observar os outros fazerem o que ele gostaria de fazer, num contexto sexual ou não.

Um famoso filme voyeur é Janela Indiscreta, lançado em XXX por Alfred Hitchcock. O personagem principal, fotógrafo impedido de sair de casa devido a uma perna fraturada, começa a teleobjetiva poderosa de sua câmera para observar os vizinhos e distrair-se enquanto se recupera. No entanto, acaba vendo o que não deveria: um possível assassinato. Assim, começa a imaginar cenários e suspeitos desse crime.

Qualquer semelhança NÃO é mera coincidência!


E ao tentar ver de longe, podemos perceber as imagens de maneira disforme. Nossa protagonista da versão Vera Sibilla da editora Masenghini, por exemplo, traz sua luneta invertida, evidenciando uma miopia que parece nem ser notada por ela. 

O medo de viver, então, alimenta-se continuamente dessa visão distorcida da realidade, preenchida pela imaginação e pelo julgamento manco. 

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