sexta-feira, 6 de maio de 2016

Tradicionais heresias

Muito se fala em cartomancia tradicional, em métodos tradicionais de leitura. A tradição traz a segurança de estar palmilhando o caminho certo, a corroboração de muitos que vieram antes de nós. Gosto muito da tradição. Mas gosto mais ainda do que funciona para mim.

Temos alguns livros sobre a Sibilla Italiana no mercado. Quase todos em italiano, um ou dois em inglês. Eles são um bom termômetro do que é tradicional e do que não é.

Na Europa, a leitura de cartas invertidas não é coisa nova. Vem pelo menos desde Etteilla, o famoso cartomante francês do século XVIII. A Sibilla Italiana, tradicionalmente, também se lê com cartas invertidas, o que nos dá um panorama de, teoricamente, 104 significados de cartas. A leitura das cartas invertidas certamente enriquece o jogo, mas não acho-a indispensável. Depende muito do olhar do cartomante. Explico-me mais adiante.

A Sibilla também é lida, tradicionalmente, em uma linha de cartas: os significados de cada carta se encaixam, se combinam e criam uma frase. Temos um sujeito, uma ação (verbo) e um objeto que sofre a ação. É tiro e queda: a previsão surge completa em uma sentença. 



"A Consulente (Amatrice) viaja para a praia (Speranza) e lá reencontra (Riunione) um amor (Amante) do passado (Denaro)."


Lida dessa maneira, nosso baralho faz previsões certeiras e claras. Responde questões simples, diretas. É um delicioso fofoqueiro. Perfeito para a cartomancia rápida, a cartomancia dos ansiosos... bem, para 80% dos clientes que nos chegam que, no fundo, precisam resolver um problema pontual ou saber se o ex vai voltar.

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Mas, confesso, gosto de uma heresia. Comecei sozinha na Sibilla Italiana, queimando os neurônios para descobrir como ela funcionava, testando aqui e ali e compartilhando o que dava certo pra mim neste blog. Algumas informações encontradas em livros e cursos me ajudaram, outras me confundiram. Acostumei-me a olhar para as imagens e, consequentemente, me incomoda MUITO ver uma carta invertida diante de mim. Preciso dos cenários em seus lugares, dos personagens conversando entre si. A combinação de significados de acordo com as posições das cartas não funciona pra mim. Por conta dessa maneira, digamos, mais pictórica e menos gramatical de ler, prefiro ficar com as cartas "de cabeça para cima". 

Meu pobre cérebro também não consegue lidar bem com a linha de cartas que forma uma frase. Até mesmo a minha escrita é fluida, troca as posições das palavras, escorrega aqui e ali. Talvez seja a minha formação... aprendi a desenhar antes de treinar a escrita. Talvez seja isso. Portanto, entendo-me com o uso de métodos comuns ao Tarô para ler a Sibilla Italiana: a Cruz Celta, a Mandala Astrológica, o Péladan, a Cruz e a Espada (que eu criei e explico aqui) etc. Assim, em sua casa, entendo se a carta é positiva ou negativa, se fala de uma ação ou de uma sensação e como se relaciona com as outras cartas.

Um dos autores de livros sobre Sibilla Italiana tem uma visão parecida com a minha: Mirko Negri. Por isso esse livro tornou-se o meu favorito, embora não seja o maior, o mais completo ou o mais vendido deles.



No entanto, esse é o meu jeito de ler, aquele que funciona para mim. Sugiro sempre a experimentação. Cada pessoa tem uma maneira de aprender, de ler o mundo e de entender as cartas. Há terceiras e quartas vias, eu bem que desconfio. E você, como lê a Sibilla Italiana?

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