Temido como um inimigo disfarçado e desprezado como simples serviçal, Domestico não é um personagem nada popular na família sibilina. Seus significados tradicionais evocam a falsa modéstia, a intriga, o perigo disfarçado, a inveja, o rancor.
Como carta do dia, causa um certo desconforto. Quem agirá de maneira falsa? De quem virá uma possível facada nas costas?
Porém, essa carta tem agido de forma muito mais suave para mim quando sai como carta do dia. Ela geralmente aparece em dias úteis da semana. E eu prevejo um dia com muitas tarefas no meu trabalho, muitas demandas. Coisas simples, mas que me deixam ocupada o dia inteiro. Nenhum incêndio para apagar, nenhuma surpresa: só a rotina intensificada, a necessidade de concentrar-me mais no trabalho e esquecer um pouco de mim.
Porque Domestico, antes de maquinar suas vinganças e conspirações, trabalha o dia inteiro. Está à disposição de seus patrões a qualquer momento. Fala pouco e faz muito. Corre para lá e para cá de maneira quase invisível, tamanha a sua eficiência. Os problemas não chegam a preocupar, pois ele está fazendo seu trabalho de formiguinha, a manutenção cuidadosa e constante do cotidiano, lubrificando o maquinário que ajuda a vida a acontecer.
É claro que preferimos - e tendemos a - nos identificar com reis e rainhas. No máximo pajens, que ao menos prometem crescer e aparecer no futuro. Mas precisamos também dos nossos dias de Domestico. Aliás, ele é quem determina o tom diário da vida. Ele é o rei do cotidiano. Sempre discreto. Tão discreto que só o notamos quando nos falta e tudo se transforma em caos.
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