Em uma série televisiva de episódios recentes exibidos por uma emissora brasileira, muita gente ficou impressionada com a possibilidade de se desvendar crimes através das cartas (e outras habilidades sensoriais). Os participantes do quadro eram pessoas muito afinadas com a própria intuição, dons e instrumentos divinatórios.
Chegar a esse nível de precisão exige grande habilidade e anos de prática. Mas como saber quando uma carta indica X e não Y? Como a Sibilla se comporta em tais situações? Como pode ser usada para se desvendar crimes e tragédias? Não exatamente para um uso investigativo das cartas, mas como um exercício muito, muito curioso.
Antes de sair vasculhando os crimes insolúveis nas páginas policiais, preferi observar como a Sibilla caracteriza casos já conhecidos. Então, reuni uma série de crimes e desastres já famosos e observei o padrão de lâminas que se repetiam em situações parecidas. Em algumas tiragens, certas cartas mostraram com precisão o caso explorado, mas não se repetiram em outras tiragens por serem muito específicas. Então não foram citadas, pois preferi lançar luz sobre aquelas que se tornaram um padrão.
Exponho aqui minhas conclusões:
Nemica e Nemico: qual a diferença?
O Nemico costuma aparecer em crimes não premeditados: aqueles que surgem da oportunidade, resultado de um arroubo momentâneo. Há perversidade aqui, porque o Nemico geralmente age por motivos nada nobres, mas não chega a ter os requintes da Nemica.
A Nemica costuma premeditar seus crimes. Mas ela dá um toque de maldade, de crueldade às suas ações. Ela é fria, se diverte com o sofrimento alheio.
A principal diferença entre eles é justamente o sadismo, a tortura. A premeditação é só uma parte disso. Afinal, a carta que indica apenas a premeditação é Gran Consolazione.
Amante e Amore: estupro e crimes passionais
Amante surge em casos de estupro ou que têm no estupro sua motivação. Se o ato faz parte do crime, ele está lá, tocando seu alaúde. Amante + Belvedere mostra que o agressor observava sua vítima há algum tempo.
Amore indica um crime passional, emoções confusas, amor e ódio misturados. Geralmente se faz presente quando assassino e vítima se conheciam antes.
Outra carta frequente em crimes passionais é Mercante: ele indica um temperamento possessivo e vê sua vítima como sua posse, como um objeto que ele pode manipular e matar quando quiser.
Disgrazia e os desastres
Presente não só nos cenários de muito fogo, também se aparece em situações de muita confusão, correria, desespero. E, curiosamente, aponta corpos mutilados: observe que Disgrazia mostra um edifício se desfazendo em pedaços.
Denaro: segredos não revelados
Essa carta é curiosa, pois não aparece muito em crimes motivados por dinheiro. Mostra que há coisas sobre aquele episódio que ainda estão sem solução ou escondidas.
Em outro caso, a combinação Denaro-Disgrazia apontou um prédio em chamas: a caixa-forte lembra um pequeno prédio, não lembra?
Allegria: a grande confusão
Indica não só casos que envolvem muita gente, como a confusão dos sentidos provocada por desespero, drogas, bebida, inalação de fumaça. Curiosamente, Deliranti não apareceu nenhuma vez nas tiragens, pois o que se deseja mostrar aqui não é a mera confusão, mas os sentidos alterados por qualquer motivo (em Allegria, o copo de bebida destaca-se no centro da lâmina).
Ladro + Fedeltà: ataque surpresa
Consolante Sorpresa apareceu em situações inesperadas, mas a dupla acima surge quando o agressor ataca sua vítima com tudo, surpreendendo-a. Lembre-se de que Fedeltà mostra um cachorro e esqueça o nome bonitinho da carta. É como um cão raivoso que salta sobre o pescoço de sua vítima, submetendo-a.
Vecchia Signora: a mãe enlutada
Geralmente acompanhada de Malinconia ou Vedovo, mostra que a vítima era jovem e deixou uma mãe de luto. As vítimas jovens aparecem como Giovanetta ou por meio dessa combinação.
Stanza, Dottore e Ammalato: o cenário do crime
Sempre presentes nos casos em que a morte ocorreu em uma sala ou quarto. Dottore mostra a vítima sendo morta em uma cama. Ammalato mostra a vítima que morre sozinha sobre a cama depois de agonizar, ou mostra a cama no cenário do crime.
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Esse não é um assunto muito abordado em leituras cartomânticas. Pode soar um tanto mórbido, sombrio, negativo. Mas não se pode negar que é um exercício válido, uma vez que envolve um certo mistério, forças sombrias, situações raramente retratadas nas cartas num primeiro momento. Aqui também aprendemos a ver as imagens além das imagens: outras leituras dos objetos, movimentos. Outras leituras das motivações dos personagens.
Perfeita as combinações. Visões drásticas. E o Sibilla vai fundo. Muito bom, Jamile.
ResponderExcluirObrigada.
Um abraço.